sexta-feira, 18 de julho de 2008

Conceito de substantivo na ótica do gramático Evanildo Bechara



Substantivo é a classe de lexema que se caracteriza por significar o que convencionalmente chamamos de objetos substantivos, isto é, em primeiro lugar, substancias (homem, casa, livro) e, em segundo lugar, quaisquer outros objetos mentalmente aprendidos como substancias, quais sejam qualidades (bondade, brancura), estados (saúde, doença), processos (chegada, entrega, aceitação).

Estrutura interna do substantivo – a estrutura interna ou constitucional do substantivo (isto é, sua morfologia) consiste, nas línguas flexivas como o português, em geral, na combinação de um signo lexical expresso pelo radical com signos morfológicos expressos pelo radical com signos morfológicos expressos por desinências e alternâncias, ambos destituídos de existência própria fora dessa combinação. Entre as desinências que, na flexão, se combinam com o substantivo está a marca de número e, nas línguas que a possuem, a marca de caso (nominativo, acusativo, etc., como se dá, por exemplo, no grego, no latim, no alemão). O substantivo, fora da flexão, pode ser dotado da marca de gênero: menino/menina, gato/gata.

Segundo as informações retiradas da Moderna Gramática Portuguesa, de Evanildo Bechara, observa-se veementemente uma avaliação descritiva da língua, especialmente em relação à classe de palavras denominada de substantivos.
Bechara chama-nos a atenção para o fato da abstração e concretização dos substantivos, que geralmente vem sendo ensinada equivocadamente nas séries iniciais do ensino fundamental, e por que não dizer até mesmo, nas séries avançadas e no ensino médio, de acordo com alguns professores dessas series, os substantivos concretos são aqueles sensíveis, que se pode tocar ou ver, e os abstratos são todos os seres imaginários. Bechara nos alerta para o fato de que os substantivos concretos são o que tem existência independente e os abstratos são os que dependem de um ser ou objeto para existir.
Outro caso notável que observamos na gramática de Bechara é a questão dos substantivos próprios e comuns, mais um fator que vem sendo ensinado erroneamente nas escolas de educação básica no país, quando alguns professores atribuem nomes comum como sendo próprio, simplesmente por não haver mais de um em nosso contexto social (papa, sol, lua, domingo), Bechara diz que se esses nomes forem escritos com maiúscula, deve-se o fato a pura convenção ortográfica, e não porque são próprios.
Ainda no estudo dos substantivos comuns e próprios, observamos que o autor destaca também a passagem de nomes próprios a comuns. Isso ocorre quando pegamos qualidades ou defeitos de um ser individual para transferir a um grupo mais numeroso de seres. Como exemplo temos na personagem histórica do discípulo Judas, não só o nome de um dos apóstolos, aquele que traiu Jesus, porém um nome que virou sinônimo de traidor ou amigo falso, em expressões do tipo: Fulano é um judas. Há ainda os nomes de pessoas ou lugares onde se fazem ou se fabricam certos produtos que passam a ser nomes próprios: sanduíche (do conde Sandwich), champanha (da região francesa Champagne).
Bechara destaca também as subclasses dos substantivos, entre essas estão às classes contáveis e não-contáveis, segundo ele a categorias dos não-contáveis pertence o substantivo coletivo, que, na forma de singular, faz referencia a uma coleção ou conjunto de objetos. Entre os coletivos há os universais, que não são contáveis e por isso só se pluralizam nas condições especiais à classe, e há também os particulares que se contam e podem ser pluralizados.
Mais um fato interessante é que ele destaca a diferença entre os coletivos e os nomes de grupo. São nomes de grupos os conjuntos de objetos contáveis, que se aplicam habitualmente ou uma espécie definida (cardume, alcatéia, enxame) ou total ou parcialmente indefinida (conjunto, grupo, bando).
Em relação à flexão de número do substantivo, estes podem pertencer ao singular ou plural, quando o singular designa vários objetos de uma mesma classe considerados num todo, chamamos de coletivo: professorado, alunado, cardume, etc.
Segundo Bechara, em português, o significado gramatical plural é obtido com a presença da desinência pluralizadora – s, o singular se caracteriza pela ausência desta desinência. A flexão de número, em português, se estende ao adjetivo e ao verbo.
Se tratando da flexão de gênero do substantivo, o que diferencia Bechara de outros gramáticos é o fato dele ressaltar a inconsistência do gênero gramatical, segundo ele a distinção do gênero nos substantivos não tem fundamento racional, exceto a tradição fixada pelo uso e pela norma. Não tem lógica lápis e papel serem masculinos enquanto caneta e folha serem femininos.
A incoerência do gênero gramatical tornar-se evidente quando se confronta a classificação de gênero em duas ou mais línguas, e até no âmbito de uma mesma língua quando analisada diacronicamente. Mesmo nos seres animados, as formas do gênero não determinam o sexo, como ocorre com os substantivos chamados epicenos, comuns de dois, e sobrecomuns. Outro fato relevante que Bechara inclui em sua gramática em relação ao gênero é a questão da mudança de gênero, derivadas das aproximações semânticas entre as palavras, da influencia da terminação, do contexto léxico em que a palavra funciona, e do próprio falante, ele ainda cita alguns exemplos na variedade temporal do português de palavras que passaram a ter gêneros diferentes: já foram femininos, fim, planeta, cometa, mapa, tigre fantasma e etc., e já foram masculinos os substantivos: arvore tribo, catástrofe, hipérbole, linguagem entre outros.
O sistema gramatical teve que se adaptar as convenções sociais e a presença casa vez mais acentuada da mulher no mercado de trabalho criando usos particulares de gêneros femininos que nem sempre foi adotado na língua portuguesa padrão.
Quanto ao grau, os substantivos apresentam-se com a sua significação aumentada ou diminuída, auxiliadas por sufixos derivacionais. O aspecto que mais destaca Bechara de outros autores de gramáticas, é que ele ressalta a confusão que a NGB fez com relação à flexão e a derivação, estabelecendo os dois graus de significação dos substantivos: aumentativo e diminutivo. Ele diz que a derivação gradativa do substantivo se realiza por dois processos, numa prova evidente de que estamos diante de um processo de derivação, e não de flexão. Os processos são: sintético – consiste no acréscimo de um final especial chamado sufixo derivacional aumentativo ou diminutivo – e o analítico – que é o emprego de uma palavra de aumento ou diminuição junto ao substantivo.
Outro aspecto que ele ressalta em relação ao “grau” é que fora da idéia de tamanho, as formas aumentativas e diminutivas podem traduzir o nosso desprezo, a nossa critica, o nosso pouco caso para certos objetos e pessoas, influenciado pelo contexto e auxiliado por uma entoação especial (critica admirativa, lamentativa, etc.).
Além de tudo que já foi analisado até agora, Bechara ainda comenta sobre a função sintática que os substantivos exercem na língua portuguesa. Ele diz que os substantivos funcionam especificamente como o sujeito (ou seu núcleo) da oração e, no domínio da constituição do predicado, adjunto adnominal e adjunto adverbial. Em geral, a função de sujeito e de objeto direto o substantivo ganha a concorrência de qualquer outro elemento.
Para encerrar Bechara fecha o estudo dos substantivos com “chaves de ouro” discorrendo sobre a influencia dos nomes próprios estrangeiros na língua portuguesa. Ele menciona os antropônimos e os topônimos, acrescentando algo interessante: nos antropônimos, a tradição literária, prefere quando possível, aportuguesar o prenome, deixado o sobrenome intacto (Renato Descartes, Antônio Meillet e etc.).
Vimos através desta curta analise que o autor busca de maneira cientifica, estudar os fenômenos ocorrentes na língua, destacando as coerências e incoerências relacionadas às classes de palavras, mas especialmente os substantivos, assim ele deixa que o leitor tenha uma visão crítica a respeito de sua própria língua e dos modelos que a convencionaram.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


BECHARA, Evanildo – Moderna Gramática Portuguesa – 37ª. ed. Rio de Janeiro: Lucerna, 2006. 112 p.

6 comentários:

Anônimo disse...

Gostei dessa aula do professor Evanildo Bechara. Gostaria muito de conhecê-lo pessoalmente! É bastante atualizado!

Anônimo disse...

e conta muitos detalhes

Harlei Cursino Vieira disse...

O professor do próximo milênio


Creio que o computador vai substituir o professor. Estou falando, é claro, do professor-transmissor de conteúdos, parado no tempo, aquele das conhecidas fichas que serviam para todas as turmas, ano após ano. Aquele que pensava que, mesmo apresentando as coisas de maneira maçante e tradicional, trazia novidades para pessoas que não sabiam quase nada. Essa transmissão de dados passará a ser feita pelo computador de um modo muito mais interessante: com recursos de animação, cores e sons; o aluno terá papel ativo, buscando os temas em que deseja se aprofundar. Algo excluído há muito tempo do currículo entrará na escola: a própria vida do estudante. Então caberá a nós reinventar a nossa profissão.


Como será o professor do próximo milênio? Acredito que ele será um estrategista da aprendizagem. Alguém que vai precisar conhecer a psicologia e a ecologia cognitivas de seu tempo (em outras palavras: saber como o aluno aprende), para poder criar estratégias de aprendizagem no ambiente do computador.


Existem duas formas de usar a máquina na sala de aula. Uma é como se ela fosse simplesmente um caderno mais prático, ou um quadro-negro mais moderno: por exemplo, colocar os alunos para copiar textos no Word, ou dar aula com apresentações no Powerpoint. Isso não é novidade, é apenas incrementar a aula tradicional com elementos atraentes.


A segunda maneira é tornar o computador um novo ambiente cognitivo, ou seja, compreender que no contexto digital mudam as nossas formas de pensar e, portanto, de aprender. Isso não é inédito na humanidade: quando a escrita surgiu, o mundo começou a pensar diferente, a organizar as idéias de outro modo e a formar novas visões da realidade. Nossa época é tão decisiva na história como aquele momento. Cabeças deixam de ser analógicas para se tornar digitais. Como se estrutura seu pensamento?


Vou dar um exemplo muito simples, a partir da minha experiência. Fui professor de Português/Literatura e Redação e, durante muito tempo, reclamei dos alunos que não queriam fazer rascunho, pensando que era preguiça. Hoje percebo, estudando as práticas de leitura e escrita na cibercultura, que na verdade existe uma nova relação com o erro. Antes, errar significava refazer toda a página. Agora, o esboço é o monitor. O rascunho é o próprio texto. Escrevemos pelo ensaio-e-erro: não gostei deste parágrafo aqui, puxo para lá, excluo, reescrevo - tudo antes de imprimir. É uma espécie de aprendizagem por simulação. Como pretender que os jovens façam rascunho no papel? Isso corresponde ao paradigma da página, da linearidade. Acompanhar o processo de escrita pelos monitores em que os alunos trabalham, em vez de ficar apenas com o resultado final, pode ser uma estratégia para conhecer mais e melhor a dinâmica dos processos de escrita dos estudantes.

Anônimo disse...

é mt longo eu nao li nada

Anônimo disse...

Achei o texto bastante relevante e reflexivo...temos que ter em mente que a língua é efêmera assim como o próprio ser humano

Anônimo disse...

Precisava ler a graamática e tirar minhas próprias conclusões, mas deu para perceber através desse trabalho a diferença da definição da classe gramatical substantivo das outras gramáticas, fiquei mais curiosa ainda para ler esse livro. obrigada pela postagem me ajudará bastante num trabalho da faculdade.