terça-feira, 8 de dezembro de 2009

LITERATURA AFRICANA DE LINGUA PORTUGUESA


Introdução


A primeira literatura africana foi produzida pelos portugueses no século XV, chamada de literatura do descobrimento, que se baseavam em relatos de viagem feitos por navegadores, escrivães e comerciantes. Logo após surgiu a literatura colonial, que retratava a vivencia dos portugueses nas terras africanas. Nestas literaturas, o centro do universo narrativo e poético era o homem europeu e não o africano. Era uma literatura profundamente racista, onde predominavam as ideias de inferioridade do homem negro. Implica falar ainda que, nestas literaturas, a África era vista apenas como uma linda paisagem, ou um paraíso, e o protagonista dessa paisagem era o homem europeu. Trata-se, pois, de uma literatura caracterizada fundamentalmente pela exploração do homem pelo homem.
Já a literatura africana de língua portuguesa irei analisar neste trabalho e um conjunto de obras literárias que traduzem uma certa africanidade, toma esta designação porque a África é o motivo da sua mensagem ao mundo, porque os processos técnicos da sua escrita se erguem contra o modismo europeu e europeizante. Essa literatura também é chamada de literatura Neo-africana por ser escrita em línguas européias, para diferenciá-la da literatura oral produzida em língua africana. Nesta literatura, o centro do universo deixa de ser o homem europeu e passa a ser o homem africano.
O que proporcionou o aparecimento dessa nova literatura com raízes africanas foi desenvolvimento do ensino oficial e formalizado na África, a liberdade de expressão, derivada da independência de alguns países que eram mantidos pelos europeus e a instalação da imprensa.
Esta literatura teve a sua origem através do confronto, da rebelião literária, linguística e ideológica, da tomada de consciência revolucionária a partir da década de 40 (século XIX), são textos impregnados de marcas visíveis da revolta política e social. Importa referir que era uma literatura dirigida particularmente aos africanos e escrita em línguas locais em mistura com o "português", pois o propósito era tornar a escrita inacessível aos europeus, isto é, não permitir ao homem branco descodificar as suas mensagens. Daí a introdução nas obras de poetas angolanos (Agostinho Neto, António Jacinto, Pinto de Andrade, Luandino Vieira, etc.) de palavras e frase idiomáticas em quimbundo e umbundo. A literatura africana de língua portuguesa não é semelhante à brasileira, pois, tem somente 40 anos de existência, por isso, não se sabe definir ao certo, qual estilo literário cada autor adota para construir suas obras.

Agostinho Neto em “A Náusea”


Antonio Agostinho Neto foi o primeiro presidente de Angola (1975-1979), após a independência desta de Portugal. Nasceu em Bengo em 17 de Setembro de 1922, na aldeia de Kaxicane, a cerca de 60 km de Luanda meio a uma família metodista - seu pai era pastor e professor de Bíblia da Igreja Metodista. Envolveu-se com grupos anticolonialistas quando estudava medicina em Portugal. Poeta nacionalista, seus escritos foram proibidos e esteve preso de 1955 a 1957 e outra vez, já em Angola, de 1960 a 1962. Conseguiu fugir para o Marrocos e posteriormente fundou o MPLA - Movimento Popular de Libertação de Angola, de tendência marxista. Conquistando a independência de Angola em 1975, contando com o apoio de Cuba, entrou em choque com grupos de direita, apoiados pelos EUA e pelo governo racista sul-africano.
O conto “A Náusea”, desse autor angolano, publicado em 1961, foi escolhido para analise por representar bem o universo mítico africano e por ter sido o modelo do momento de solidificação da literatura angolana, quer pelo fato de seu autor ter sido o mais importante precursor da independência de Angola especificar em seus escritos a ação principal da literatura como uma das táticas de confronto com o colonialismo, quer por se tratar de um conto bem preparado em que há uma busca de expressão de valores nacionais e a construção de uma personagem-protagonista cujos traços essenciais seriam retomados depois em diversos textos de outros autores africanos.
São dois os personagens do conto: o velho João e seu sobrinho que não apresenta nome, sendo o protagonista o velho João, trabalhador humilde e morador do musseque, a favela luandense, o qual vai visitar sua família na ilha de Luanda. O velho João relembra o passado, as lembranças tristes que o mar evoca. Impregnado do cheiro do mar e das lembranças, sente náusea e vomita. O sobrinho, jovem, por não ter vivido as experiências do tio em relação ao mar, reage diferente ao presenciar a cena, porque só consegue fazer a seguinte leitura: "... que mania que têm os velhos de beber demais."
Nota-se que a descrição do reencontro do protagonista com o espaço de sua infância, que ocupa a parte inicial da narração, o espaço marinho pouco aparece, mas e substancializado através das metonímias: “uma ou outra onda mais comprida”, “areia quente da praia”, e “sombra dos coqueiros”, como se o expressão MAR precisasse ser evitado. Ela só aparecera na narrativa quando seu João disser: “O mar. A morte. Esta água salgada é perdição.”, para acrescentar: “O mar. Mu’alunga!”. Depois disso, o velho João enumera as mortes de pescadores da família e de amigos que se afogaram como espécie de prova dos malefícios trazidos pelo mar. Porém, a queixa apresentada no conto deixa de pertencer somente ao velho João e passa a fazer parte do discurso de todos os angolanos que tiveram os mesmos entes queridos naquela situação, quando o narrador organiza e abrevia o conteúdo dos pensamentos do velho João, propiciando que as lamentações do protagonista sejam estendidas com as lentes do discurso dos marginalizados dos portos quando chegaram às caravelas portuguesas:

Kalunga. Depois vieram os navios, saíram os navios. E o mar, é sempre Kalunga. A morte. O mar tinha levado o avô para outros continentes. O trabalho escravo é Kalunga. O inimigo é o mar.

O mar no conto é identificado com os navios e às desgraças da colonização, entre as quais o tráfico negreiro e, portanto, é caracterizado como Inimigo: “não conhece os homens. Não sabe que o povo sofre. Só sabe fazer sofrer.”
A correspondência do mar à desgraça é operacionalizada, na esfera das expectativas do protagonista do conto “A Náusea”, como destino contra a qual não ela pode lutar apenas enojar-se; mas, levando em conta que a náusea é também a demonstração da revolta do africano colonizado, é possível realizar uma leitura em que a consciência possível do velho João é ultrapassada, vislumbrando as possibilidades de uma mudança da situação.

O cenário do MAR na literatura africana de língua portuguesa


O mar já tem sido lugar de destaque em toda a literatura de língua portuguesa. Talvez, por se ser a via por onde navegaram as caravelas chegando aos mais distantes portos. O mar se tornou símbolo da expansão dos portugueses. Olhando por essa perspectiva, pode-se dizer que os mares foram o ponto privilegiado de onde a nação mirou-se ao voltar seu olhar ao Outro, engendrando, a partir da espessa camada de representações elaboradas sobre os povos dos portos, uma imagem de si própria. Dessa maneira, os olhares das naus enxergaram os portos aonde elas chegavam, mas porem não ouvia os gemidos que eram ali expostos.
Fazia-se então necessária outra viagem: aquela que propiciasse uma real descoberta de si próprios, tentando desvendar as imagens superpostas e tornar audíveis suas falas. Em outras palavras, tentar resgatar a memória e os sonhos. Nesse processo, foi fundamental o papel da literatura, pois o discurso articulado na série literária, ao abrir-se em possibilidades de projetar o futuro, foi o aliado escolhido na árdua luta que se travou para a independência.
Em Angola, mais precisamente na cidade de Luanda, porto a que as naus dos colonizadores portugueses chegaram no século XV e de onde partiriam apenas em 1975, o caminho percorrido rumo à independência foi longo e demorou um largo tempo para que suas próprias imagens e vozes se impusessem. Então depois da independência os até então donos do mar e da voz foram calados e em seu lugar, triunfante, a voz dos reais donos da terra, há tanto silenciada, ergueu-se, proferindo discursos de autonomia e construção de uma nova nação.

Considerações Finais


Toda literatura tem como inspiração uma referencia. Na literatura brasileira, tivemos como referencia o índio, o negro, a mulher adultera e etc. Já na literatura africana de língua portuguesa, devido ao pouco tempo de existência, e aos conflitos históricos sociais em que atravessaram a população africana, a referencia literária, passou o MAR, aquilo que mais lhe causa lembranças, tanto triste como felizes, pois durante séculos, o MAR foi utilizado como tortura e formas de dominação. Agustinho Neto soube aproveitar muito bem essa temática em seu conto “A Náusea”, pois explorou o tema de forma que soube passar o sentimento de tristeza e angustia, mesmo para aqueles que não vivenciaram a experiência da escravidão.


Fonte: www.geocities.com

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Referência,Linearização, cognição e referência: o desafio do hipertexto.


By teoriaediscurso
Noção de hipertexto:

» O termo hipertexto foi cunhado por Theodor Holm Nelson em 1964, para referir uma escritura eletrônica não-sequêncial e não-linear.
» Trata-se de uma forma de estruturação textual que faz do leitor simultaneamente co-autor do texto final.
» O hipertexto se caracteriza, pois, como um processo de escritura/leitura eletrônica multilinearizado, multisequecial e indeterminado, realizado em um novo espaço. O hipertexto consegue integrar notas, citações, bibliografias, referências, imagens, fotos e outros elementos encontrados na obra impressa.
» O hipertexto não é previsível.
» O hipertexto não tem uma única ordem de ser lido. A leitura pode dar-se em muitas ordens.
» Tem múltiplas formas de prosseguir.
» O hipertexto exige um maior grau de conhecimentos prévios e maior consciência quanto ao buscado, já que é um permanente convite a escolhas muitas vezes inconsequentes. “Stress cognitivo” Natureza do hipertexto:
» Não-linearidade
» Volatilidade
» Topografia
» Fragmentariedade
» Acessibilidade ilimitada
» Multisemiose
» Interatividade
» Iteratividade
» No hipertexto há vários assuntos conectados, permitindo que o leitor deixe de ser apenas leitor e passe a ser co-autor, produzindo assim, seu próprio hipertexto, com conteúdo e ordem de ser lido, próprios desse co-autor, o qual, hipertexto, dificilmente terá outro igual, como diz Marcuschi (2008:155), “Pode-se até mesmo dizer que não há, efetivamente, dois textos iguais, na escritura hipertextual”.
» No hipertexto as notas de rodapé são outros textos, que conduzem a outros vários textos, bastando, para isso, utilizar/clicar os links eletrônicos, o que torna o hipertexto multilinear.
» No hipertexto não há artigo com estrutura pronta e definida, mas a possibilidade de criação de várias outras estruturas, bastando, para isso, a exploração das diferentes conexões possíveis. A não-linearidade sugere descentramento, ou seja, inexistência de um foco dominante. Isto não chega a ser uma exclusividade do hipertexto, pois se observarmos, um texto impresso sempre foi passível de muitas interpretações e de múltiplas leituras.
» A deslinearização é um processo de construção de sentido muito antigo e normal. A novidade é que a deslinearização no hipertexto é uma técnica de produção, e no livro impresso é uma forma de recepção. Apesar do hipertexto fugir a linearização, ele não se trata de uma produção textual aleatória, pois isto tornaria ininteligível a informação. Há, sim, uma linearização mínima, seja em parágrafos, capítulos, pequenas peças que podem ser lidas seqüencialmente. Um aspecto importante da deslinearização é que ela não é comandada por um único autor, pode-se acessar textos de autores diversos e temas variados, desde que se queria aprofundar a leitura. Sabendo que linearidade lingüística é um princípio básico da teorização da língua, o hipertexto não rompe esse padrão, ele rompe a ordem de construção ao propiciar um conjunto de possibilidades de constituição textual plurilinearizada , condicionada por interesses e conhecimentos do leitor-co-produtor.
» Os desafios do hipertexto estão na área do ensino. O hipertexto acarretará redefinições curriculares, revisão e identificação de fontes, estabelecimento de um corpo de conhecimentos que possibilite a ordenação do fragmentário.
» O hipertexto é um ponto de chegada e não um ponto de partida no caso do ensino. Sendo a escola este espaço de interação social onde práticas sociais de linguagem acontecem , o trabalho com gêneros textuais torna-se imprescindível, haja vista que os gêneros existem quase que em número ilimitado, variando em função da época, das culturas e das finalidades sociais, assim, cabe à escola a tarefa de privilegiar textos de gêneros que aparecem com maior freqüência na realidade social e no universo escolar, tais como notícias, editoriais, cartas argumentativas, artigos de divulgação cientifica, verbetes, enciclopédicos, contos, romances entre outros. Portanto, o ensino de Língua Portuguesa deve ser centrado no conhecimento lingüístico e discursivo com o qual o sujeito opera ao participar das práticas sociais mediadas pela linguagem, o que justifica a relevância do ensino de leitura e produção de textos focados em gêneros textuais, visto que estes permitem lidar com a língua em seus mais diversos usos no cotidiano de uma determinada comunidade.
» No tópico “Ensino e Natureza da linguagem” do PCN de Língua Portuguesa, discute-se a necessidade de um projeto educativo em que socialização e cultura interajam de diversas maneiras a desenvolver a habilidade de leitura,escrita e interpretação textual. Ao fazer tal afirmação, percebe-se que o letramento deve ser produzido no processo de participação de práticas sociais que usam a escrita como sistema simbólico.
» Sendo assim, os gêneros são rotinas sociais do nosso dia-a-dia e ,por isso, não devemos concebê-los como modelos isolados nem como estruturas rígidas e tão próprias, mas como formas culturais e cognitivas de ação social. De acordo com o Parâmetro Curricular em questão, a linguagem contém em si a fonte dialética da tradição e da mudança. Assim,temos que ela conserva um vínculo muito estreito com o pensamento, tendo duas funções distintas, quais sejam: a0 construtora de quadros de referencia cultural; e b0 mediadora da abstração ou concretização do pensamento.
» Bakhtinianamente falando, o discurso é uma totalidade viva e concreta e não uma abstração formal, por isso, o enunciado ou discurso não deve ser entendido como ato solitário, principalmente porque é peça fundamental na socialização. A noção de gênero vem sendo tulmutuada por parâmetros para observação e caracterização, contudo, os gêneros diferenciam-se em certos aspectos funcionais e é por isso que eles multiplicam-se para dar conta das inúmeras atividades desenvolvidas cotidianamente. Apesar do que foi exposto anteriormente, todo e qualquer texto se encaixa em determinado gênero , a depender das intenções comunicativas que geram usos sociais que os determinam. Sendo “a escola um espaço de interação social onde práticas sociais de linguagem acontecem e se circunstanciam, assumindo características bastante específicas em função de sua finalidade”(pag.22). os gêneros textuais devem atuar de maneira a reconstruir e desenvolver habilidades discursivas e sociais nos alunos que , por sua vez , constituem-se como uma das variáveis do ensino. O fenômeno lingüístico deve agir no indivíduo como um ato significativo de criação individual, atuando como ciência da expressão.
Trabalho apresentado pela disciplina de Língua Portuguesa XI, da professora Adriana Barbosa, pelos discentes: Cláudio Pires, Eloi Miranda, Jorge Duarte.